de Clarice…

"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou
irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdôo logo. Não
esqueço nunca, mas há poucas coisas de que eu me lembre. Sou paciente,
mas profundamente colérica, como a maioria dos pacientes. As pessoas
nunca me irritam mesmo, certamente porque eu as perdôo de antemão.
Gosto muito das pessoas por egoísmo: é que elas se parecem no fundo
comigo. Nunca esqueço uma ofensa, o que é uma verdade. Mas como pode
ser verdade, se as ofensas saem de minha cabeça como se nunca nela
tivessem entrado? Tenho uma paz profunda, somente porque ela é profunda
e não pode ser sequer atingida por mim mesma. Se fosse alcançável por
mim, eu não teria um minuto de paz. Quanto a minha paz superficial, ela
é uma alusão à verdadeira paz. Outra coisa que esqueci é que há outra
alusão em mim: a do mundo grande e aberto. Apesar do meu ar duro, sou
cheia de muito amor e é isso o que certamente me dá uma grandeza."

Clarice Lispector

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Sobre anaylop

Sou um instantâneo das coisas apanhadas em delito de paixão a raiz quadrada da flor que espalmais em apertos de mão. ... Sou uma impudência a mesa posta de um verso onde o possa escrever "A defesa de um poeta" N. Correia
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