
Vassuncês diga o que
é
Um coração
de home véio
Que quanto mais véio
fica,
Mais aprecia uma muié!
Vassuncês ri? Falo
sério.
O coração do
home véio
é um burro véio
trotando,
dáqui e dali trupicando
na derradeira viage,
que faz lá prô
cimitério,
comendo pelos caminhos
um resto seco de espinho
que vae topando no chão
,
bebendo uns pingo de orváio
dos óios – as duas
cacimbas
da fonte do coração!
….
Em riba dúma cangáia
duas muié carregando
cum o peso todo
da idade:
uma, já morta: a
Esperança,
outra, inda viva: a Saudade,…
Até cair cum a Esperança
e o cadáver da Saudade
e os frutos podre
dos anos
que ele leva no jacá,
prá arrecebê,
afiná,
o beijo de amô da
boca
da namorada dos véios,
que toda mágua alivia,
que toda a pena consola!…
A Morte, patrão,
a Morte!
essa cabloca fié!
Muda… Surda…Cega e fria,
que depois de uma
viola,
é a mais mió
das muié.
Catulo da Paixão Cearence*
Cearense em 8 de outubro de 1863, em São Luiz ,Estado do Maranhão. Em 1880 em companhia de
seus pais e irmãos (Gil e Gerson) mudou-se para o Rio de Janeiro. Aos 19 anos interrompeu
os estudos e abraçou o violão, instrumento naquela época,
repelido dos lares mais modestos.Iniciante tocador de flauta, a trocou
pelo violão, pois assim, podia cantar suas modinhas.
Nesse tempo passou a escrever
e cantar as modinhas como, “Talento e Formosura”, “Canção
do Africano” e “Invocação a uma estrela”.
Moralizou o violão
levando-o aos salões mais nobres da capital.
Em 1908, deu uma audição
no Conservatório de Música.
Catulo foi autodidata autentico.
Suas primeiras letras foram ensinadas por sua genitora e toda sua grande
cultura foi adquirida em livros que comprava e por sua franquia à
Biblioteca do Senador do Império, por ser professor dos filhos do
Conselheiro Gaspar da Silveira .
“Aprendi musica, como aprendi
a fazer versos, naturalmente”, dizia o Velho Marruêro.
Seu pai faleceu em 1 de
agosto de 1885, desgostoso por seu filho ter abandonado os estudos para
ser poeta, sem tempo de assistir a moralização do violão,
o que veio a marcar tremendamente Catulo.
À medida que envelhecia
mais se aprimorava. Catulo homem, não se modificava, sempre fiel
ao seu estilo. “…Com gramática ou sem gramática,
sou um grande Poeta..”.
A sua casinhola em Engenho
de Dentro, afundada no meio do mato era histórica. Alí recebia
seus admiradores, escritores estrangeiros, acadêmicos nacionais,
sempre com banquetes de feijoada e o champagne nunca substituía
o paratí, por mais ilustre que fosse o visitante.
As paredes divisórias
eram lençóis e sempre que previa a presença de pessoas
importantes, dizia para a mulata transformada em dona de casa. “Cabocla
, lave as paredes amanhã , que Domingo vem gente!”
Sua primeira modinha famosa
“Ao Luar” foi composta em 1880.
Em algumas composições
teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto Medeiros,
Ernesto Nazareth, Chiquinha da Silva, Francisco Braga e outros.
Como interprete, o maior
tenor do Brasil, Vicente Celestino.
Catulo morreu aos 83 anos
de idade, em 10 de maio de 1946,a rua Francisca Meyer nº 78, casa
2. Seu corpo foi embalsamado e exposto a visitação
pública até 13 de maio, quando desceu a sepultura no cemitério
São Francisco de Paula , no Largo do Catumbí, ao som
de “Luar do Sertão”.