Nasci lá na Bahia
De Mucama com feitor
Meu pai dormia em cama
Minha mãe no pisador
Meu pai só dizia assim, venha cá
Minha mãe dizia sim, sem falar
Mulher que fala muito perde logo seu amor
Deus fez primeiro o homem
A mulher nasceu depois
Por isso é que a mulher
Trabalha sempre pelos dois
Homem acaba de chegar, tá com fome
A mulher tem que olhar pelo homem
E é deitada, em pé, mulher tem é que trabalhar (…)
(“Maria Moita” – V. de Moraes, T. Jobim)
Acho bonita essa música, apesar de ter um tom meio “cinza” por lembrar o tempo da escravidão e tal. Mas enfim… E agora? O que fazer com o que a tendência que a própria ciência comprova de que mulher fala mesmo mais que o homem? Mas será que falam tanto mais assim?
Uma pesquisa mostrou que, as mulheres falam, em média, 16.215 palavras por dia. Os homens, 15.669. Logo, a diferença é tão pequena entre os dois, que não é levada em conta na estatística. Os cientistas gravaram conversas de cerca de 400 homens e mulheres nos Estados Unidos e no México, entre 1998 e 2004. O estudo foi divulgado na revista Science.
Uma das curiosidades da pesquisa é que os três indivíduos mais falantes identificados pertenciam ao sexo masculino e os mais quietos também. O homem mais tagarela falou cerca de 47 mil palavras em um dia, enquanto o mais quieto pronunciou apenas 500. Esse resultado contradiz um estudo anterior, também feito nos EUA, que dizia que as mulheres falam três vezes mais do que os homens. A nova pesquisa faz justiça às mulheres, porque é só observar uma roda de amigos, para chegar à conclusão que os homens falam muito, também.
“Se tem [a mulher independente] dificuldade em agradar é porque não é como suas irmãzinhas escravas, uma pura vontade de agradar, o desejo de seduzir, por vivo que seja, não lhe desceu a medula dos ossos; sentindo-se inábil, irrita-se com seu servilismo; quer se vingar participando do jogo com armas masculinas; fala ai invés de escutar, expõem pensamentos sutis, emoções inéditas; contradiz seu interlocutor em lugar de aprovar, tenta ser-lhe superior”, disse Simone de Beauvoir em seu ensaio sobre a condição da mulher, “O Segundo Sexo” volume dois – “A Mulher Independente”.
Ta, ok. A questão exposta não é se a mulher fala demais. O homem fala mais. A partir do momento em que a mulher passou a querer também falar, aí ela ficou tachada como a que fala mais, e logicamente que esse comportamento daria em que? “Ah, mulher que fala muito…”, se expõem, não é “bem quista”, não serve pra… Casar! Não sou contra casamento, absolutamente!
Fico pensando, por quanto tempo a mulher se refreou de opinar, de falar, de se ‘indignar no palanque’ com medo de cometer o delito por falar demais. E quanto é falar demais pra mulher? Quanto? Muito difícil…
Aí, pra você Mulher, classificar-se como “normalzinha”, tem que ficar mais quietinha. Quando souber de um assunto, não ouse dizer diretamente, ou fazer com que outros saibam imediatamente que você sabe… Tem todo um processo, todo um esquema aí.
Olha, nem tenho muito o que dizer (já que sou mulher né, lembra do esquema né? Shiiiii). Ser mulher é uma arte, camarada!
Um abraço quietinho…
Polyana.